Vivemos dentro de uma estrutura de poder sexista e
patriarcal, o homem é o mais forte, o provedor, a mulher é o sexo frágil, que
cuida dos filhos e do lar, criou-se uma falsa identidade, uma ideia de que a
vida humana é pré-concebida, as pessoas quando nascem, dependendo do sexo, já
tem seu destino decidido, se nascer uma menina a roupa será rosa, mas se for
menino será azul, a sociedade ensina ao individuo “o que é certo e o que é
errado”. Esses mesmos indivíduos, quando formados, passarão os ensinamentos às
novas gerações como se essa formação fosse um ciclo, como em um jogo de xadrez,
cada peça em seu devido lugar para que tudo ocorra perfeitamente. Em suma, é o
gênero que define papéis sociais, características e comportamentos distintos
entre homens e mulheres na sociedade.
O Serviço Social, desde sua gênese até os tempos
atuais, tem sido um campo profissional dominado por mulheres, devido à ligação
da profissão com a igreja, com a caridade, com a ajuda e cuidado ao próximo,
justamente porque essas atribuições são consideradas exclusivas do sexo
feminino. Nota- se que, desde sua gênese, com a criação das instituições de
caridade e, posteriormente, com o Curso Intensivo de Formação Social para
Moças, organizado pelo Ceas (Centro de Estudos e Ação Social), cujas
participantes constituíam-se de jovens formadas em instituições religiosas de
ensino, que tinham como objetivo assegurar o bem-estar da sociedade, a
profissão foi sendo destinada exclusivamente como uma atividade feminina, por
serem elas dotadas de uma “vocação natural”.
Na década de 1930, quando foram inauguradas as
primeiras escolas de Serviço Social, a mulher era vista como aquela que devido
a características consideradas natas, tinha o papel e a obrigação de educar,
disciplinar e ajudar, características essas que são completamente opostas as
que são atribuídas aos homens que tem como responsabilidade serem independentes
financeiramente, terem que alcançar o sucesso profissional, ser o provedor da
sua família. O Serviço Social se caracterizava fundamentalmente pela
participação de moças e senhoras da sociedade burguesa, sendo necessária para o
ingresso na carreira de Assistente social uma série de qualidades que eram
vistas como naturais no comportamento feminino, isto é, além de possuírem a
mais integra formação moral, as moças deveriam ser pessoas calmas, simpáticas,
comunicativas, de bom-humor, ter sentimento de amor ao próximo. O Serviço
Social era visto como mais um cômodo da casa, onde a Assistente Social cuidava
de tudo e de todos. Uma moça bondosa e caridosa, “cheia de qualidades
femininas” e não poderia ser diferente, as bases iniciais
da profissão possuíam essa vertente.
Todavia, mudanças aconteceram, a profissão passou
por uma reconceituação e, atualmente, possui um Projeto Ético Político que
reúne os valores e objetivos da profissão, que tem a liberdade como valor
central e defende um projeto societário que busca a construção de uma nova
ordem social, a favor da equidade e da justiça social, rompendo com o
conservadorismo. Esse processo é suficientemente claro e explicita o que nos
quadros de hoje realmente é o Serviço Social e o que é ser Assistente Social,
um profissional que trabalha com a garantia de direitos, então porque os homens
também não podem ocupar esse espaço profissional, porque um homem não pode
trabalhar garantindo direitos? Ainda permanece incutida na profissão uma imagem
feminina e isso faz com que o trabalho de um (a) assistente social seja visto
como um favor, alguém que veio para ajudar, que não exigisse qualificação e tudo
isso se reflete na desvalorização que é dada ao profissional de Serviço Social,
através dos baixos salários que lhes são auferidos, através da baixíssima ou
quase inexistente procura de homens pela profissão.
O Serviço Social [ainda] é uma profissão gendrada,
mas esses papéis pré-moldados podem ser desconstruídos, abrindo-se o leque da
diversidade, da tolerância e do respeito, levando mulheres e homens a
refletirem sobre os padrões, lugares e posições que lhes são impostos, de modo
a não aceitá-los de olhos vendados, ou seja, as pessoas podem usar a cor que
quiserem, uma criança pode brincar do que quiser e ser o que quiser, uma menina
pode ser uma Engenheira Civil e um menino pode ser um Assistente Social, pois
isso é uma escolha pessoal de cada um.
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