"... o sexo é fisiológico e diz respeito às diferenças biológicas entre machos e fêmeas da espécie humana. O sexo é determinado pelas características físicas, equipamento biológico que, de fato, é diferente em homens e mulheres. Já o gênero é cultural, ou seja, ser homem ou ser mulher não implica apenas na fisiologia, mas também em incorporar comportamentos, desempenhar papéis e funções sociais que historicamente foram designadas como masculinas e femininas" (TAVARES, 2006).


terça-feira, 16 de outubro de 2012

SERVIÇO SOCIAL: UMA PROFISSÃO EXCLUSIVA DO SEXO FEMININO?



Vivemos dentro de uma estrutura de poder sexista e patriarcal, o homem é o mais forte, o provedor, a mulher é o sexo frágil, que cuida dos filhos e do lar, criou-se uma falsa identidade, uma ideia de que a vida humana é pré-concebida, as pessoas quando nascem, dependendo do sexo, já tem seu destino decidido, se nascer uma menina a roupa será rosa, mas se for menino será azul, a sociedade ensina ao individuo “o que é certo e o que é errado”. Esses mesmos indivíduos, quando formados, passarão os ensinamentos às novas gerações como se essa formação fosse um ciclo, como em um jogo de xadrez, cada peça em seu devido lugar para que tudo ocorra perfeitamente. Em suma, é o gênero que define papéis sociais, características e comportamentos distintos entre homens e mulheres na sociedade.
O Serviço Social, desde sua gênese até os tempos atuais, tem sido um campo profissional dominado por mulheres, devido à ligação da profissão com a igreja, com a caridade, com a ajuda e cuidado ao próximo, justamente porque essas atribuições são consideradas exclusivas do sexo feminino. Nota- se que, desde sua gênese, com a criação das instituições de caridade e, posteriormente, com o Curso Intensivo de Formação Social para Moças, organizado pelo Ceas (Centro de Estudos e Ação Social), cujas participantes constituíam-se de jovens formadas em instituições religiosas de ensino, que tinham como objetivo assegurar o bem-estar da sociedade, a profissão foi sendo destinada exclusivamente como uma atividade feminina, por serem elas dotadas de uma “vocação natural”.
Na década de 1930, quando foram inauguradas as primeiras escolas de Serviço Social, a mulher era vista como aquela que devido a características consideradas natas, tinha o papel e a obrigação de educar, disciplinar e ajudar, características essas que são completamente opostas as que são atribuídas aos homens que tem como responsabilidade serem independentes financeiramente, terem que alcançar o sucesso profissional, ser o provedor da sua família. O Serviço Social se caracterizava fundamentalmente pela participação de moças e senhoras da sociedade burguesa, sendo necessária para o ingresso na carreira de Assistente social uma série de qualidades que eram vistas como naturais no comportamento feminino, isto é, além de possuírem a mais integra formação moral, as moças deveriam ser pessoas calmas, simpáticas, comunicativas, de bom-humor, ter sentimento de amor ao próximo. O Serviço Social era visto como mais um cômodo da casa, onde a Assistente Social cuidava de tudo e de todos. Uma moça bondosa e caridosa, “cheia de qualidades femininas” e não poderia ser diferente, as bases iniciais da profissão possuíam essa vertente.
Todavia, mudanças aconteceram, a profissão passou por uma reconceituação e, atualmente, possui um Projeto Ético Político que reúne os valores e objetivos da profissão, que tem a liberdade como valor central e defende um projeto societário que busca a construção de uma nova ordem social, a favor da equidade e da justiça social, rompendo com o conservadorismo. Esse processo é suficientemente claro e explicita o que nos quadros de hoje realmente é o Serviço Social e o que é ser Assistente Social, um profissional que trabalha com a garantia de direitos, então porque os homens também não podem ocupar esse espaço profissional, porque um homem não pode trabalhar garantindo direitos? Ainda permanece incutida na profissão uma imagem feminina e isso faz com que o trabalho de um (a) assistente social seja visto como um favor, alguém que veio para ajudar, que não exigisse qualificação e tudo isso se reflete na desvalorização que é dada ao profissional de Serviço Social, através dos baixos salários que lhes são auferidos, através da baixíssima ou quase inexistente procura de homens pela profissão.
O Serviço Social [ainda] é uma profissão gendrada, mas esses papéis pré-moldados podem ser desconstruídos, abrindo-se o leque da diversidade, da tolerância e do respeito, levando mulheres e homens a refletirem sobre os padrões, lugares e posições que lhes são impostos, de modo a não aceitá-los de olhos vendados, ou seja, as pessoas podem usar a cor que quiserem, uma criança pode brincar do que quiser e ser o que quiser, uma menina pode ser uma Engenheira Civil e um menino pode ser um Assistente Social, pois isso é uma escolha pessoal de cada um.

Nenhum comentário:

Postar um comentário