"... o sexo é fisiológico e diz respeito às diferenças biológicas entre machos e fêmeas da espécie humana. O sexo é determinado pelas características físicas, equipamento biológico que, de fato, é diferente em homens e mulheres. Já o gênero é cultural, ou seja, ser homem ou ser mulher não implica apenas na fisiologia, mas também em incorporar comportamentos, desempenhar papéis e funções sociais que historicamente foram designadas como masculinas e femininas" (TAVARES, 2006).


terça-feira, 30 de outubro de 2012

ENSAIO FOTOGRAFICO "BAPHÃO QUEER" PELA DESCONSTRUÇÃO DA NORMATIVIDADE



Enéias Misael Franco dos Santos
  
Resumo: Este trabalho contempla imagens fotográficas que visam à desconstrução da normatividade encontrada na sociedade contemporânea. O ensaio fotográfico “Baphão” Queer pensa estratégias que são incomuns à conjuntura atual com a finalidade de desnaturalizar hábitos estigmatizados e fazer os espectadores refletirem sobre os mesmos ao visualizarem as obras. Modelos masculinos utilizam acessórios femininos como saltos, argolas, bolsas, maquiagem, etc. e a proposta é problematizar o que conhecemos como normas utilizando a arte da fotografia.

Palavras-chave: Fotografia, Moda, Teoria Queer, Heteronormatividade, Sexualidade.

Existem quantas maneiras de viver o casamento, a adolescência, a sexualidade, o trabalho ou a vida? Existem quantas maneiras de lidar com os pais, com os filhos, com a vestimenta ou com as modernizações que se impõem as vidas alheias, mesmo que não tenham participação direta nessas mudanças?

A sociedade insiste em ditar as regras de como se deve viver, elege um padrão e logo todos o identificam como normal, limitando e restringindo as diversas formas de vivências. Em meio a toda essa homogeneidade, pessoas que não seguem esses padrões normativos são vistas como anormais, doentes, imperfeitos, porque “as normas funcionam como princípio normalizador das práticas sociais” (BUTLER, 2006, p. 69).

 Stuart Hall (2005) caracteriza o sujeito pós-moderno como um ser fragmentando, que não consegue criar ou desenvolver uma identidade fixa e ater-se a ela pelo resto da sua vida. Ou seja, todos os dias vivemos essa crise de identidades e entendemos que, embora ‘sejamos diferentes, devemos ser normais’.


A Teoria Queer surge no cenário político para questionar o normal e o anormal, ou seja, questionar os padrões de normalidade erigidos pela sociedade. O que existe como padrão de vivência humana é questionado pelos teóricos e adeptos da Política Queer. Por que casar e ter filhos? Por que rosa é cor de menina e azul é cor de menino? Por que homens têm de se relacionar necessariamente com mulheres e vice-versa? Butler (2002) sinaliza e ajuda a compreensão dos estudiosos sobre a Teoria Queer quando diz: “Queer adquire todo o seu poder precisamente através da invocação reiterada que o relaciona com acusações, patologias e insultos”.

 Butler também traz o conceito de performatividade para explicar o que acontece quando um regime é imposto e todos seguem aquele modelo, muitas vezes de maneira ritualizada, fazendo com que os ideais ganhem força, tornem-se normas e se firmem numa sociedade, penetrando na cultura da população e tornando-se parte da vida cotidiana das pessoas.

Uma norma não é o mesmo que uma regra e tampouco é o mesmo que uma lei. Uma norma opera dentro das práticas sociais como o estandarte implícito da normalização. [...] As normas podem ser explícitas, sem dúvida, quando funcionam como princípio normalizador da prática social, mas em geral, permanecem implícitas, são difíceis de ler, os efeitos que produzem são a forma mais clara e dramática mediante a qual se podem discernir. (BUTLER, 2006, p.69).

Nessa perspectiva, nasce a proposta do ensaio fotográfico “Baphão” Queer. Ele representa uma tentativa de usar as ferramentas que servem de estigma numa pequena parcela da população, que não se encontra nos grupos ditos “normais”, para provocar as pessoas que acreditam ser saudáveis7 porque seguem um modelo de vida comum numa sociedade extremamente fragmentada e moderna.

A escolha de utilizar a arte da fotografia se deve ao poder que a mesma tem embutido, como dito por Kossoy (2001): “é a fotografia um intrigante documento visual cujo conteúdo é a um só tempo revelador de informações e denotador de emoções.” Além de eternizar os momentos para as próximas gerações, a fotografia pode ensinar. Pessoas aprendem, pensam e refletem olhando uma imagem. Estudantes com experiência na área dos Estudos da Sexualidade e do Gênero juntaram-se na tentativa de organizar um ensaio fotográfico Queer. Para isso, seria necessário utilizar locais que representassem a sociedade como ruas, passarelas, pontos de ônibus, bares, calçadas, shoppings, etc.. Assim, o ensaio causaria maior impacto, visto que a representação dessas pessoas nos referidos locais simboliza suas vivências em locais públicos, abertos e de trânsito de pessoas. Ou ainda, pode-se utilizar a justificativa de tornar as imagens mais próximas do ambiente naturalizado.

Foram feitas várias reuniões para discutir o significado da Teoria Queer, utilizando como base o texto de Colling (2011) sobre o tema. A partir deste momento, começou-se a pensar as imagens e o ensaio em si, buscando construir um link entre as imagens fotográficas e a Política Queer, cujo resultado se encontra em anexo.





REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BUTLER, Judith. Criticamente subversiva. In: JIMÉNEZ, Rafael M. Mérida.Sexualidades transgressoras. Uma antologia de estúdios queer. Barcelona: Içariaeditorial, 2002, p. 57.
 ________. Deshacer El gênero. Barcelona: Paidós, 2006, p. 69.
COLLING, Leandro. Teoria Queer. In. Mais definições em Trânsito. 2011.
HALL, Stuart. A identidade em questão. In: A identidade cultural na pós modernidade.Rio de Janeiro: DP&A, 2005, p. 7 – 22.
KOSSOY, Boris. Fotografia e História. São Paulo, Ateliê Editorial, 2001, p. 16. 

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