Enéias Misael Franco
dos Santos
Resumo: Este trabalho contempla imagens
fotográficas que visam à desconstrução da normatividade encontrada na sociedade
contemporânea. O ensaio fotográfico “Baphão” Queer pensa estratégias que são
incomuns à conjuntura atual com a finalidade de desnaturalizar hábitos
estigmatizados e fazer os espectadores refletirem sobre os mesmos ao visualizarem
as obras. Modelos masculinos utilizam acessórios femininos como saltos,
argolas, bolsas, maquiagem, etc. e a proposta é problematizar o que conhecemos
como normas utilizando a arte da fotografia.
Palavras-chave: Fotografia, Moda, Teoria Queer,
Heteronormatividade, Sexualidade.
Existem quantas maneiras
de viver o casamento, a adolescência, a sexualidade, o trabalho ou a vida?
Existem quantas maneiras de lidar com os pais, com os filhos, com a vestimenta
ou com as modernizações que se impõem as vidas alheias, mesmo que não tenham
participação direta nessas mudanças?
A sociedade insiste em
ditar as regras de como se deve viver, elege um padrão e logo todos o
identificam como normal, limitando e restringindo as diversas formas de
vivências. Em meio a toda essa homogeneidade, pessoas que não seguem esses
padrões normativos são vistas como anormais, doentes, imperfeitos, porque “as normas funcionam como princípio
normalizador das práticas sociais” (BUTLER, 2006, p. 69).
Stuart Hall (2005) caracteriza o sujeito
pós-moderno como um ser fragmentando, que não consegue criar ou desenvolver uma
identidade fixa e ater-se a ela pelo resto da sua vida. Ou seja, todos os dias
vivemos essa crise de identidades e entendemos que, embora ‘sejamos diferentes,
devemos ser normais’.
A Teoria Queer surge no
cenário político para questionar o normal e o anormal, ou seja, questionar os
padrões de normalidade erigidos pela sociedade. O que existe como padrão de
vivência humana é questionado pelos teóricos e adeptos da Política Queer. Por
que casar e ter filhos? Por que rosa é cor de menina e azul é cor de menino?
Por que homens têm de se relacionar necessariamente com mulheres e vice-versa?
Butler (2002) sinaliza e ajuda a compreensão dos estudiosos sobre a Teoria
Queer quando diz: “Queer adquire todo o
seu poder precisamente através da invocação reiterada que o relaciona com
acusações, patologias e insultos”.
Butler também traz o conceito de
performatividade para explicar o que acontece quando um regime é imposto e
todos seguem aquele modelo, muitas vezes de maneira ritualizada, fazendo com
que os ideais ganhem força, tornem-se normas e se firmem numa sociedade,
penetrando na cultura da população e tornando-se parte da vida cotidiana das
pessoas.
Uma
norma não é o mesmo que uma regra e tampouco é o mesmo que uma lei. Uma norma
opera dentro das práticas sociais como o estandarte implícito da normalização.
[...] As normas podem ser explícitas, sem dúvida, quando funcionam como
princípio normalizador da prática social, mas em geral, permanecem implícitas, são
difíceis de ler, os efeitos que produzem são a forma mais clara e dramática
mediante a qual se podem discernir. (BUTLER, 2006, p.69).
Nessa perspectiva, nasce a
proposta do ensaio fotográfico “Baphão” Queer. Ele representa uma tentativa de
usar as ferramentas que servem de estigma numa pequena parcela da população,
que não se encontra nos grupos ditos “normais”, para provocar as pessoas que
acreditam ser saudáveis7 porque seguem um modelo de vida comum numa sociedade
extremamente fragmentada e moderna.
A escolha de utilizar a
arte da fotografia se deve ao poder que a mesma tem embutido, como dito por
Kossoy (2001): “é a fotografia um
intrigante documento visual cujo conteúdo é a um só tempo revelador de
informações e denotador de emoções.” Além de eternizar os momentos para as
próximas gerações, a fotografia pode ensinar. Pessoas aprendem, pensam e
refletem olhando uma imagem. Estudantes com experiência na área dos Estudos da
Sexualidade e do Gênero juntaram-se na tentativa de organizar um ensaio
fotográfico Queer. Para isso, seria necessário utilizar locais que
representassem a sociedade como ruas, passarelas, pontos de ônibus, bares,
calçadas, shoppings, etc.. Assim, o ensaio causaria maior impacto, visto que a
representação dessas pessoas nos referidos locais simboliza suas vivências em
locais públicos, abertos e de trânsito de pessoas. Ou ainda, pode-se utilizar a
justificativa de tornar as imagens mais próximas do ambiente naturalizado.
Foram feitas várias
reuniões para discutir o significado da Teoria Queer, utilizando como base o
texto de Colling (2011) sobre o tema. A partir deste momento, começou-se a pensar
as imagens e o ensaio em si, buscando construir um link entre as imagens
fotográficas e a Política Queer, cujo resultado se encontra em anexo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BUTLER, Judith.
Criticamente subversiva. In: JIMÉNEZ, Rafael M. Mérida.Sexualidades
transgressoras. Uma antologia de estúdios queer. Barcelona: Içariaeditorial,
2002, p. 57.
________. Deshacer El gênero. Barcelona:
Paidós, 2006, p. 69.
COLLING,
Leandro. Teoria Queer. In. Mais definições em Trânsito. 2011.
HALL, Stuart. A
identidade em questão. In :
A identidade cultural na pós modernidade.Rio de Janeiro: DP&A, 2005, p. 7 –
22.
KOSSOY, Boris.
Fotografia e História. São Paulo, Ateliê Editorial, 2001, p. 16.
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