"... o sexo é fisiológico e diz respeito às diferenças biológicas entre machos e fêmeas da espécie humana. O sexo é determinado pelas características físicas, equipamento biológico que, de fato, é diferente em homens e mulheres. Já o gênero é cultural, ou seja, ser homem ou ser mulher não implica apenas na fisiologia, mas também em incorporar comportamentos, desempenhar papéis e funções sociais que historicamente foram designadas como masculinas e femininas" (TAVARES, 2006).


terça-feira, 30 de outubro de 2012

Feminismo Cotidiano: Uma resenha do livro ”Vardagsfeminism” da Jennie Sjögren


Emma I. Lyngedal


O livro Feminismo cotidiano é o segundo livro da autora Jennie Sjögren que, também é ativa como jornalista, trabalhando em várias redações.  O livro dela fala sobre a importância do feminismo fazer parte da vida cotidiana. Primeiro discute o conceito de feminismo e, depois, seguem três capitulos: feminismo em casa, no trabalho e na sociedade. Feminismo quer dizer igualdade – os mesmos direitos e possibilidades sem ter nada haver com sexo ou gênero; ou, com as palavras da autora:

Mulheres ainda não tem a mesma liberdade política, econômica, social e mental que os homens. Isso as feministas acham errado. Feministas querem assegurar que homens e mulheres têm os mesmos diretos e obrigações. Feministas querem que a sociedade seja igual. Porque todos não são feministas?
J. Sjögren começa com um pouco da historia de feminismo na Suécia. Em 1995, a Suécia foi nomeada o país mais igual. Um prêmio fantástico, mas não suficiente; segundo o Claes Borgström, que teve o cargo como ombudsman de igualdade 2000-2007, igualdade não é comparável; ou é igual, ou não é. Assim, a Suécia ainda tem muito a fazer para chegar a ser igual.


A palavra “feminista” é mal usada e mal entendida. Para definir o que quer dizer ser “feminista”, a autora faz entrevistas com pessoas de várias áreas, mas todas relacionadas com o assunto. Uma deles é com a pesquisadora Lena Gemzöe, do Centro dos Estudos da Mulher na Universidade de Estocolmo, Suécia. Na bagagem dela, tem uma formação de antropologia e um doutorado em socioantropologia, estudando gênero e religião. Ela define que uma feminista considera:


1. que as mulheres são inferiores aos homens e
2. que essa relação deve ser mudada.

Isso no contexto de quatro esferas: política/economia; mesmo que a Suécia tenha uma representação de mulheres no governo e parlamento, relativamente grande, as áreas entre si são segregadas entre homens e mulheres – políticas femininas trabalham com saude e política social e, familia e igualdade, enquanto os políticos masculinos trabalham com política de taxa, finanças, defesa e trânsito. Familia; Na Suécia, os pais têm direito a 480 dias em que eles podem ser pagos sem trabalhar, para ficarem em casa e cuidar do filho; 60 dias são fixos para cada mãe e  pai, e nos dias restantes se dividem entre si. A média é que os homens só tiram 14 % destes dias, geralmente na época mais favorável, como natal, reveillon e verão, e deixam os dias “normais” para as mulheres. Cultura; o trabalho das mulheres não está sendo tão valorizado como o dos homens. Nem o ser mulher está sendo valorizado, se pensarmos como a indústria de midia, publicidade e moda objetificam o corpo da mulher. Violência; com maioria esmagadora, a vítima nos crimes sexuais é mulher, e a maioria dos que se interessam, dão atenção e trabalham com estes assuntos, também são mulheres.

 A autora quer dizer que não importa que tipo de feminista que é, que pode se chamar feminista sem problema. Feminsta não quer dizer “feminista radical”, “feminista liberal” ou o que seja; ser feminista é muito amplo e pode ter várias diretrizes. Ser feminista só quer dizer que um está contra desigualdades entre homens e mulheres. "No livro tem algumas respostas se alguém questiona o que ser feminista":


Esclarecendo, entramos no capitulo sobre igualdade em casa e como as tarefas normalmente são divididas entre homens e mulheres. A Suécia não tem o costume de ter empregados domésticos, embora, durante as décadas de 1950 e 1960 existiram. Porém, isso parou por várias décadas. Só nos últimos anos é que recomeçou a ter ajuda em casa e parece que aos poucos está voltando, mas ainda é uma pequena minoria que possui empregados.


Em 2003, fizeram um estudo de quanto tempo a mulher e o homem dedicam para fazer o trabalho em casa; como cozinhar, tirar a mesa e lavar a louça, lavar roupa, manutenção da casa e jardim, fazer compras. Segundo essa estatística, o homem dedica mais tempo no ponto de manutenção da casa, e apesar de fazer compras, atividade em que homens e mulheres dedicam mais ou menos o mesmo tempo, a mulher dedica mais tempo em todos os outros pontos. Não faz muito tempo que o trabalho em casa começou a ser dividido. Eram os homens nascidos nas décadas de sessenta e setenta que, diferente dos seus pais, numa maior extensão, viviam só durante seus estudos e tiveram que aprender a cuidar de sua própria casa. Nesse sentido, o desenvolvimento está bom. Mas, infelizmente, esse progresso não aparece na estatística quando os homens começam a viver junto com uma mulher; ao contrário, mostra que a mulher tenderá a ter mais trabalho ainda para fazer.



A autora quer chamar atenção de que, além disso, o absurdo de que, muitas vezes, as mulheres falam com orgulho quando seus homens ajudam em casa. Isso é errado porque deveria ser algo óbvio e algo normal. Imagine se fosse o contrário, que um homem um dia ia confessar que “na minha casa é a minha mulher que faz as compras e cozinha”. Muitas vezes, nem a mulher entende quanto tempo dedica à casa, em comparação ao homem. Se o leitor gostaria de descobrir como está na sua própria relação, tem uma tabela de trabalho em casa com um sistema de pontos.



Esta tabela é só um exemplo e tem que ser modificada com as tarefas das casas de cada um. Se tiver filhos também, a lista pode ser alargada mais ainda.

Outras dicas para dividir o trabalho em casa mais igualitariamente, é que se pode fazer uma lista com tarefas que têm que ser realizadas a cada semana, e que um dos membros do casal seja responsável por cumprir a lista por uma semana, e trocar com o outro na semana seguinte. Se a lista não for cumprida, tem que pagar uma multa de x reais para o outro. Como existem homens que têm a tendência de querer mostrar para a sua mulher que a tarefa tem sido feita, e falam “veja que bom, eu enchi a máquina de lavar”, ou “agora está cheirando bem, depois que eu saí com os lixos”, outra dica é para a mulher começar a fazer o mesmo como “veja como os copos estão brilhando depois que eu os lavei”. Assim, logo vai ser óbvio que tal comportamento é ridículo. E lembre que não tem ciência que fala que mulheres não podem consertar um carro, ou que homens não sabem passar ferro. Argumentos como que será mais rápido para um fazer uma tarefa não tem sentido. Cada um é capaz de aprender. Se estivesse sozinho, não podia culpar a ninguém, e seriam obrigados a fazer tudo sozinhos. A tabela e a lista são apenas dois instrumentos para ver como a relação está sendo igual, e não para criar uma relação militar que sempre tem que contar pontos para ter uma relação boa. A intenção é que depois de descobrir como está na própria relação, as tarefas serão divididas, naturalmente, de forma mais igual, sem forçar com multas.

Na Suécia, quando tiver filho, os pais têm direito aos 480 dias pagos para ficar em casa e cuidar seu filho. 240 días são divididos 50%/50% entre o pai e a mãe e o resto pode ser dividido como os pais querem. O problema nesse caso é que na sociedade é visto que é obvio que a mãe tira os dias, enquanto o pai pode escolher quando e como.

No capítulo que discute a parte de trabalho, a autora entra falando sobre assédio. Segundo estatística feito em 2001, as profissões em que as mulheres sofrem mais (por causa do seu sexo) são:



Se olhamos o ambiente de trabalho dos jovens, a escola, os assédios aumentam marcadamente: até 77 % das meninas com idade de 17 anos têm sofrido por violações sexuais. É muito problemático que este comportamento, depois da escola, vai entrar no mercado do trabalho. Em 1980 a “lei da igualidade” foi introduzida na Suécia para assegurar a homens e mulheres os mesmos direitos no trabalho.

Muitos locais de trabalho não são adaptados para as mulheres. Por exemplo, deveriam adaptar os locais de trabalho para grávidas, pois a gestação não é uma doença, é um estado natural. Para comparar - como é natural ir aos banheiros, quem ia reclamar e tirar os banheiros dos trabalhos?

A terceira parte é a sociedade machista. Soa radical, mas com alguns exemplos já dá para ver que a sociedade, por vários lados, é feita por homens e para homens. Quando os carros da Volvo foram construídos, os testes foram feitos só com homens; as cadeiras foram desenhadas para servir ao corpo do homem.

Conclusão

Eu cresci numa sociedade sueca, e eu nunca me senti maltratada por ser mulher, nem me senti tratada de forma diferente que os homens; éramos iguais. Eu me sinto bem, eu como mulher também posso abrir uma porta para um homem, como um gesto amistoso.  Homens aqui podem se vestir de rosa, que só é uma cor entre outras e não tem a ver com sexualidade ou identificação. No Brasil, eu percebi que é diferente. A distinção entre meninos e meninas começa cedo. Na Súecia é comum que os pais não queiram saber o sexo do seu filho antes que nasça, porque querem que seja uma surpresa. No Brasil, os pais querem saber cedo para começarem a arrumar o quarto para o filho – rosa se for uma menina e azul se for um menino. Quando se entra numa loja de roupas, na seção para crianças, as roupas de meninos e de meninas são bem distintas. Depois, vêm os brinquedos; bonecas para as meninas e carros para os meninos. Depois, acham estranho que as mulheres gostem mais de bebês que homens, e que os homens tenham um interesse maior por carros? Quando estimulam um interesse cedo para uma criança, esse interesse vai continuar a vida inteira, como um tipo de doutrinação.
Quando eu estava carregando umas sacolas, mochila ou bolsa no Brasil, meus amigos masculinos sempre queriam carregá-las para mim. Educadamente, mas com firmeza, eu dizia não. Eu não faço academia, e carregar umas sacolas era o mínimo exercício para mim! Quando eu preciso de ajuda, eu peço, mas se consigo, eu prefiro carregar minhas próprias sacolas para treinar os meus bícepzinhos e tricepzinhos. Por outro lado, se algum amigo meu estava com MUITAS bolsas etc., eu me oferecia para ajudá-lo, mas sempre me falava, não, e meu amigo absurdamente continuava carregando, quase caindo por causa do sobrepeso...
Entre várias diferenças culturais que têm entre a cultura brasileira e a sueca, é a forma de brincar com tudo e poder fazer piadas de tudo. O sueco estereotipado é tímido e não fala muito, e em geral, não é aceito fazer piadas políticas incorretas; quer dizer, fazer piadas sobre gays, imigrantes, homens ou mulheres, etc. O brasileiro estereotipado pode, e é mais relaxado nessas questões. Eu acho isso um pouco problemático. Por um lado é bom, se todos estão relaxados, não tomam a piada a sério e não se ofendem, mas eu acho muito difícil saber quando a piada passa dos limites. Eu acho que, em longo prazo, piadas dessa forma terão consequências negativas. Sempre fazendo piadas sobre as mulheres, fazem com que a mulher, no fim vire uma piada; vire uma espécie de palhaço, e quem toma um palhaço a sério? Aí vem a parte problemática: o estereótipo da fêmea continua prosperando. Eu acho o mesmo sobre as piadas relativas aos homens, que também mantêm o estereótipo do homem. Os estereótipos  no Brasil são bem firmes. Na Suecia, eu não acho a aparência do homen e da mulher tão diferentes. Eu acho o livro aqui discutido, um pouco negativo demais, mas eu concordo que a Suecia também não chegou a ser igual. Criamos os filhos mais iguais, mas como o livro mostra, na vida de família e trabalho as tradições conservadoras continuam e as diferenças crescem. 











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