A prostituição feminina
está entrelaçada à situação econômica, ao prazer, a sexualidade, cor, família e
discriminação. É perceptível seu aumento numa sociedade que preza tanto por
valores morais e conservadores.
Embora sempre reprimido e
estigmatizado, o comércio profissional do sexo subsiste graças à própria
sociedade que a condena. A dinâmica da prostituição dá-se nos centros das
cidades, em áreas turísticas, concentradas pela presença masculina, como bares,
boates e pensões. Esses tipos de estabelecimentos são bastante coniventes para
a atividade dessas mulheres, uma vez que há quartos nesses locais, que as
mesmas podem alugar, custeados por elas ou por seus clientes. Esse universo da
prostituição feminina é composto principalmente por mulheres negras, oriundas
de famílias pobres, com histórico escolar baixo. Percebe-se em seu contexto uma
exclusão social, devido às condições de renda precária, além da questão étnica,
marcada pela visão marginalizada do negro na sociedade.
Esta discussão vai além
das implicações da situação econômica, como também da cor. No âmbito do desejo,
do prazer sexual, a cor da pele é um dos determinantes principais do fator
erótico, essa concepção que foi
construída historicamente, se perpetua graças a exibição de novelas, filmes ou
séries que instigam o imaginário do senso comum, cria-se um estereótipo de
apelo sexual que é disseminado pela sociedade. Por isso a valorização da
mulher negra nesse âmbito. Até mesmo pelo próprio contexto histórico da
formação do negro. A afrodescendente é vista e utilizada para diversão, para
satisfação do prazer sexual. Já as mulheres brancas, as “senhoras da casa”,
devem ser resguardadas em função do marido e da família. Além da violência de
gênero, a submissão da figura feminina em relação ao homem, percebe-se a
discriminação racial.
É importante atentar para os espaços que a mulher
ocupa neste contexto, um espaço de transgressão, entendida aqui como alguém que
foge totalmente dos padrões estabelecidos pela sociedade conservadora. A mesma
que controla a sexualidade feminina como garantia de honra para os homens e
moral familiar. Nesse sentido, a vida sexual da mulher deve ser desenvolvida
somente através de práticas sexuais permitidas. Tal realidade permite ao homem
o controle social, subjugando a mulher e colocando-a numa posição de submissão.
Até mesmo na prática da prostituição faz-se presente essa realidade. Em muitos
casos, os próprios clientes agem de forma autoritária, quando essa relação
perpassa a lógica cliente-prostituta, que vai além do sexo por dinheiro. Há
homens que mantêm uma relação de posse sobre as mesmas, pagando o aluguel do
quarto, e outras despesas. Lembra-nos uma relação patriarcal, instaurando um
caráter mais afetivo.
(FOTO: Mário Vedder)
Essa dicotomia vivida pela mulher, de um lado
temos a mulher “de bem”, que se resguarda em função da sua família e, do outro
lado, vemos a marginalização desta outra que utiliza seu corpo como um
instrumento de trabalho e que vive sua sexualidade de forma mais livre e
independente, sofrendo com isso todo tipo de preconceito ao sair dos padrões
impostos por uma sociedade dita moralista, é algo que já está intrínseco na
história da mulher. As prostitutas são sim caracterizadas como deformadoras do
papel feminino, e são sim, vistas como mulheres descartáveis, sem valores ou
pudor.
Contudo o que não podemos esquecer é que mais
importante do que fazer juízo de valor, é reconhecer que a prostituição muitas
vezes é fruto do sistema capitalista, para, além disso, a questão do prazer que
se aproxima do “conto de fadas”, do amor. Muitas dessas mulheres prostitutas
sonham encontrar um homem que possa sustentá-las e tirá-las da situação em que
se encontram. Mas, nessa trajetória, há experiências e frustrações, podendo ser
levadas para o resto da vida, serem vítimas de violência, de abuso,
preconceito. Enfim, o que fica bem claro é a realidade dessas mulheres,
menosprezadas e hostilizadas, sem reconhecimento, por parte da sociedade, dos
riscos que se revelam inerentes a este tipo de atividade.
Portanto, é importante salientarmos a extinção de
atos discriminatórios, caso haja a legalização da prostituição como profissão.
Só irá oficializar uma atividade que existe e é legítima, desde o início da
nossa civilização. Talvez seja uma das formas mais coerentes e razoáveis de
enfrentarmos esta questão. Admitindo políticas públicas contra discursos
discriminatórios e conservadores que tratam a mulher prostituta como objeto
descartável. A sociedade precisa perceber que a prostituição é uma troca
consciente de favores sexuais por interesses, podendo ser afetivos ou não,
podendo consistir numa relação sexual por favorecimento profissional, por bens
materiais ou por informações, meios
pelos quais a mulher busca escapar do contexto de exclusão do qual faz parte.
Por:
Domingas Maria, Indira
Lara, Isis Bahia, Nélida Santos, Núbia Duarte, Rafaela Freitas e Rosane Silva.
Referência
SILVA, William. Legalização da Prostituição. Sim
ou Não? 2008.
REIS, Tatiana. Prostituição feminina: interação
entre sexualidade, corpo, cor e desejo.
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