"... o sexo é fisiológico e diz respeito às diferenças biológicas entre machos e fêmeas da espécie humana. O sexo é determinado pelas características físicas, equipamento biológico que, de fato, é diferente em homens e mulheres. Já o gênero é cultural, ou seja, ser homem ou ser mulher não implica apenas na fisiologia, mas também em incorporar comportamentos, desempenhar papéis e funções sociais que historicamente foram designadas como masculinas e femininas" (TAVARES, 2006).


domingo, 21 de outubro de 2012

PROSTITUIÇÃO FEMININA: uma questão de gênero, etnia, sexo e amor, ainda conservadora.

A prostituição feminina está entrelaçada à situação econômica, ao prazer, a sexualidade, cor, família e discriminação. É perceptível seu aumento numa sociedade que preza tanto por valores morais e conservadores.

Embora sempre reprimido e estigmatizado, o comércio profissional do sexo subsiste graças à própria sociedade que a condena. A dinâmica da prostituição dá-se nos centros das cidades, em áreas turísticas, concentradas pela presença masculina, como bares, boates e pensões. Esses tipos de estabelecimentos são bastante coniventes para a atividade dessas mulheres, uma vez que há quartos nesses locais, que as mesmas podem alugar, custeados por elas ou por seus clientes. Esse universo da prostituição feminina é composto principalmente por mulheres negras, oriundas de famílias pobres, com histórico escolar baixo. Percebe-se em seu contexto uma exclusão social, devido às condições de renda precária, além da questão étnica, marcada pela visão marginalizada do negro na sociedade.

Esta discussão vai além das implicações da situação econômica, como também da cor. No âmbito do desejo, do prazer sexual, a cor da pele é um dos determinantes principais do fator erótico, essa concepção que foi construída historicamente, se perpetua graças a exibição de novelas, filmes ou séries que instigam o imaginário do senso comum, cria-se um estereótipo de apelo sexual que é disseminado pela sociedade. Por isso a valorização da mulher negra nesse âmbito. Até mesmo pelo próprio contexto histórico da formação do negro. A afrodescendente é vista e utilizada para diversão, para satisfação do prazer sexual. Já as mulheres brancas, as “senhoras da casa”, devem ser resguardadas em função do marido e da família. Além da violência de gênero, a submissão da figura feminina em relação ao homem, percebe-se a discriminação racial.

É importante atentar para os espaços que a mulher ocupa neste contexto, um espaço de transgressão, entendida aqui como alguém que foge totalmente dos padrões estabelecidos pela sociedade conservadora. A mesma que controla a sexualidade feminina como garantia de honra para os homens e moral familiar. Nesse sentido, a vida sexual da mulher deve ser desenvolvida somente através de práticas sexuais permitidas. Tal realidade permite ao homem o controle social, subjugando a mulher e colocando-a numa posição de submissão. Até mesmo na prática da prostituição faz-se presente essa realidade. Em muitos casos, os próprios clientes agem de forma autoritária, quando essa relação perpassa a lógica cliente-prostituta, que vai além do sexo por dinheiro. Há homens que mantêm uma relação de posse sobre as mesmas, pagando o aluguel do quarto, e outras despesas. Lembra-nos uma relação patriarcal, instaurando um caráter mais afetivo.
(FOTO: Mário Vedder)
Essa dicotomia vivida pela mulher, de um lado temos a mulher “de bem”, que se resguarda em função da sua família e, do outro lado, vemos a marginalização desta outra que utiliza seu corpo como um instrumento de trabalho e que vive sua sexualidade de forma mais livre e independente, sofrendo com isso todo tipo de preconceito ao sair dos padrões impostos por uma sociedade dita moralista, é algo que já está intrínseco na história da mulher. As prostitutas são sim caracterizadas como deformadoras do papel feminino, e são sim, vistas como mulheres descartáveis, sem valores ou pudor.

Contudo o que não podemos esquecer é que mais importante do que fazer juízo de valor, é reconhecer que a prostituição muitas vezes é fruto do sistema capitalista, para, além disso, a questão do prazer que se aproxima do “conto de fadas”, do amor. Muitas dessas mulheres prostitutas sonham encontrar um homem que possa sustentá-las e tirá-las da situação em que se encontram. Mas, nessa trajetória, há experiências e frustrações, podendo ser levadas para o resto da vida, serem vítimas de violência, de abuso, preconceito. Enfim, o que fica bem claro é a realidade dessas mulheres, menosprezadas e hostilizadas, sem reconhecimento, por parte da sociedade, dos riscos que se revelam inerentes a este tipo de atividade.

Portanto, é importante salientarmos a extinção de atos discriminatórios, caso haja a legalização da prostituição como profissão. Só irá oficializar uma atividade que existe e é legítima, desde o início da nossa civilização. Talvez seja uma das formas mais coerentes e razoáveis de enfrentarmos esta questão. Admitindo políticas públicas contra discursos discriminatórios e conservadores que tratam a mulher prostituta como objeto descartável. A sociedade precisa perceber que a prostituição é uma troca consciente de favores sexuais por interesses, podendo ser afetivos ou não, podendo consistir numa relação sexual por favorecimento profissional, por bens materiais ou por informações, meios pelos quais a mulher busca escapar do contexto de exclusão do qual faz parte.


Por: Domingas Maria, Indira Lara, Isis Bahia, Nélida Santos, Núbia Duarte, Rafaela Freitas e Rosane Silva.


Referência
SILVA, William. Legalização da Prostituição. Sim ou Não? 2008.
REIS, Tatiana. Prostituição feminina: interação entre sexualidade, corpo, cor e desejo.




Nenhum comentário:

Postar um comentário