"... o sexo é fisiológico e diz respeito às diferenças biológicas entre machos e fêmeas da espécie humana. O sexo é determinado pelas características físicas, equipamento biológico que, de fato, é diferente em homens e mulheres. Já o gênero é cultural, ou seja, ser homem ou ser mulher não implica apenas na fisiologia, mas também em incorporar comportamentos, desempenhar papéis e funções sociais que historicamente foram designadas como masculinas e femininas" (TAVARES, 2006).


terça-feira, 30 de outubro de 2012

Feminismo Cotidiano: Uma resenha do livro ”Vardagsfeminism” da Jennie Sjögren


Emma I. Lyngedal


O livro Feminismo cotidiano é o segundo livro da autora Jennie Sjögren que, também é ativa como jornalista, trabalhando em várias redações.  O livro dela fala sobre a importância do feminismo fazer parte da vida cotidiana. Primeiro discute o conceito de feminismo e, depois, seguem três capitulos: feminismo em casa, no trabalho e na sociedade. Feminismo quer dizer igualdade – os mesmos direitos e possibilidades sem ter nada haver com sexo ou gênero; ou, com as palavras da autora:

Mulheres ainda não tem a mesma liberdade política, econômica, social e mental que os homens. Isso as feministas acham errado. Feministas querem assegurar que homens e mulheres têm os mesmos diretos e obrigações. Feministas querem que a sociedade seja igual. Porque todos não são feministas?
J. Sjögren começa com um pouco da historia de feminismo na Suécia. Em 1995, a Suécia foi nomeada o país mais igual. Um prêmio fantástico, mas não suficiente; segundo o Claes Borgström, que teve o cargo como ombudsman de igualdade 2000-2007, igualdade não é comparável; ou é igual, ou não é. Assim, a Suécia ainda tem muito a fazer para chegar a ser igual.


A palavra “feminista” é mal usada e mal entendida. Para definir o que quer dizer ser “feminista”, a autora faz entrevistas com pessoas de várias áreas, mas todas relacionadas com o assunto. Uma deles é com a pesquisadora Lena Gemzöe, do Centro dos Estudos da Mulher na Universidade de Estocolmo, Suécia. Na bagagem dela, tem uma formação de antropologia e um doutorado em socioantropologia, estudando gênero e religião. Ela define que uma feminista considera:


1. que as mulheres são inferiores aos homens e
2. que essa relação deve ser mudada.

Isso no contexto de quatro esferas: política/economia; mesmo que a Suécia tenha uma representação de mulheres no governo e parlamento, relativamente grande, as áreas entre si são segregadas entre homens e mulheres – políticas femininas trabalham com saude e política social e, familia e igualdade, enquanto os políticos masculinos trabalham com política de taxa, finanças, defesa e trânsito. Familia; Na Suécia, os pais têm direito a 480 dias em que eles podem ser pagos sem trabalhar, para ficarem em casa e cuidar do filho; 60 dias são fixos para cada mãe e  pai, e nos dias restantes se dividem entre si. A média é que os homens só tiram 14 % destes dias, geralmente na época mais favorável, como natal, reveillon e verão, e deixam os dias “normais” para as mulheres. Cultura; o trabalho das mulheres não está sendo tão valorizado como o dos homens. Nem o ser mulher está sendo valorizado, se pensarmos como a indústria de midia, publicidade e moda objetificam o corpo da mulher. Violência; com maioria esmagadora, a vítima nos crimes sexuais é mulher, e a maioria dos que se interessam, dão atenção e trabalham com estes assuntos, também são mulheres.

 A autora quer dizer que não importa que tipo de feminista que é, que pode se chamar feminista sem problema. Feminsta não quer dizer “feminista radical”, “feminista liberal” ou o que seja; ser feminista é muito amplo e pode ter várias diretrizes. Ser feminista só quer dizer que um está contra desigualdades entre homens e mulheres. "No livro tem algumas respostas se alguém questiona o que ser feminista":


Esclarecendo, entramos no capitulo sobre igualdade em casa e como as tarefas normalmente são divididas entre homens e mulheres. A Suécia não tem o costume de ter empregados domésticos, embora, durante as décadas de 1950 e 1960 existiram. Porém, isso parou por várias décadas. Só nos últimos anos é que recomeçou a ter ajuda em casa e parece que aos poucos está voltando, mas ainda é uma pequena minoria que possui empregados.


Em 2003, fizeram um estudo de quanto tempo a mulher e o homem dedicam para fazer o trabalho em casa; como cozinhar, tirar a mesa e lavar a louça, lavar roupa, manutenção da casa e jardim, fazer compras. Segundo essa estatística, o homem dedica mais tempo no ponto de manutenção da casa, e apesar de fazer compras, atividade em que homens e mulheres dedicam mais ou menos o mesmo tempo, a mulher dedica mais tempo em todos os outros pontos. Não faz muito tempo que o trabalho em casa começou a ser dividido. Eram os homens nascidos nas décadas de sessenta e setenta que, diferente dos seus pais, numa maior extensão, viviam só durante seus estudos e tiveram que aprender a cuidar de sua própria casa. Nesse sentido, o desenvolvimento está bom. Mas, infelizmente, esse progresso não aparece na estatística quando os homens começam a viver junto com uma mulher; ao contrário, mostra que a mulher tenderá a ter mais trabalho ainda para fazer.



A autora quer chamar atenção de que, além disso, o absurdo de que, muitas vezes, as mulheres falam com orgulho quando seus homens ajudam em casa. Isso é errado porque deveria ser algo óbvio e algo normal. Imagine se fosse o contrário, que um homem um dia ia confessar que “na minha casa é a minha mulher que faz as compras e cozinha”. Muitas vezes, nem a mulher entende quanto tempo dedica à casa, em comparação ao homem. Se o leitor gostaria de descobrir como está na sua própria relação, tem uma tabela de trabalho em casa com um sistema de pontos.



Esta tabela é só um exemplo e tem que ser modificada com as tarefas das casas de cada um. Se tiver filhos também, a lista pode ser alargada mais ainda.

Outras dicas para dividir o trabalho em casa mais igualitariamente, é que se pode fazer uma lista com tarefas que têm que ser realizadas a cada semana, e que um dos membros do casal seja responsável por cumprir a lista por uma semana, e trocar com o outro na semana seguinte. Se a lista não for cumprida, tem que pagar uma multa de x reais para o outro. Como existem homens que têm a tendência de querer mostrar para a sua mulher que a tarefa tem sido feita, e falam “veja que bom, eu enchi a máquina de lavar”, ou “agora está cheirando bem, depois que eu saí com os lixos”, outra dica é para a mulher começar a fazer o mesmo como “veja como os copos estão brilhando depois que eu os lavei”. Assim, logo vai ser óbvio que tal comportamento é ridículo. E lembre que não tem ciência que fala que mulheres não podem consertar um carro, ou que homens não sabem passar ferro. Argumentos como que será mais rápido para um fazer uma tarefa não tem sentido. Cada um é capaz de aprender. Se estivesse sozinho, não podia culpar a ninguém, e seriam obrigados a fazer tudo sozinhos. A tabela e a lista são apenas dois instrumentos para ver como a relação está sendo igual, e não para criar uma relação militar que sempre tem que contar pontos para ter uma relação boa. A intenção é que depois de descobrir como está na própria relação, as tarefas serão divididas, naturalmente, de forma mais igual, sem forçar com multas.

Na Suécia, quando tiver filho, os pais têm direito aos 480 dias pagos para ficar em casa e cuidar seu filho. 240 días são divididos 50%/50% entre o pai e a mãe e o resto pode ser dividido como os pais querem. O problema nesse caso é que na sociedade é visto que é obvio que a mãe tira os dias, enquanto o pai pode escolher quando e como.

No capítulo que discute a parte de trabalho, a autora entra falando sobre assédio. Segundo estatística feito em 2001, as profissões em que as mulheres sofrem mais (por causa do seu sexo) são:



Se olhamos o ambiente de trabalho dos jovens, a escola, os assédios aumentam marcadamente: até 77 % das meninas com idade de 17 anos têm sofrido por violações sexuais. É muito problemático que este comportamento, depois da escola, vai entrar no mercado do trabalho. Em 1980 a “lei da igualidade” foi introduzida na Suécia para assegurar a homens e mulheres os mesmos direitos no trabalho.

Muitos locais de trabalho não são adaptados para as mulheres. Por exemplo, deveriam adaptar os locais de trabalho para grávidas, pois a gestação não é uma doença, é um estado natural. Para comparar - como é natural ir aos banheiros, quem ia reclamar e tirar os banheiros dos trabalhos?

A terceira parte é a sociedade machista. Soa radical, mas com alguns exemplos já dá para ver que a sociedade, por vários lados, é feita por homens e para homens. Quando os carros da Volvo foram construídos, os testes foram feitos só com homens; as cadeiras foram desenhadas para servir ao corpo do homem.

Conclusão

Eu cresci numa sociedade sueca, e eu nunca me senti maltratada por ser mulher, nem me senti tratada de forma diferente que os homens; éramos iguais. Eu me sinto bem, eu como mulher também posso abrir uma porta para um homem, como um gesto amistoso.  Homens aqui podem se vestir de rosa, que só é uma cor entre outras e não tem a ver com sexualidade ou identificação. No Brasil, eu percebi que é diferente. A distinção entre meninos e meninas começa cedo. Na Súecia é comum que os pais não queiram saber o sexo do seu filho antes que nasça, porque querem que seja uma surpresa. No Brasil, os pais querem saber cedo para começarem a arrumar o quarto para o filho – rosa se for uma menina e azul se for um menino. Quando se entra numa loja de roupas, na seção para crianças, as roupas de meninos e de meninas são bem distintas. Depois, vêm os brinquedos; bonecas para as meninas e carros para os meninos. Depois, acham estranho que as mulheres gostem mais de bebês que homens, e que os homens tenham um interesse maior por carros? Quando estimulam um interesse cedo para uma criança, esse interesse vai continuar a vida inteira, como um tipo de doutrinação.
Quando eu estava carregando umas sacolas, mochila ou bolsa no Brasil, meus amigos masculinos sempre queriam carregá-las para mim. Educadamente, mas com firmeza, eu dizia não. Eu não faço academia, e carregar umas sacolas era o mínimo exercício para mim! Quando eu preciso de ajuda, eu peço, mas se consigo, eu prefiro carregar minhas próprias sacolas para treinar os meus bícepzinhos e tricepzinhos. Por outro lado, se algum amigo meu estava com MUITAS bolsas etc., eu me oferecia para ajudá-lo, mas sempre me falava, não, e meu amigo absurdamente continuava carregando, quase caindo por causa do sobrepeso...
Entre várias diferenças culturais que têm entre a cultura brasileira e a sueca, é a forma de brincar com tudo e poder fazer piadas de tudo. O sueco estereotipado é tímido e não fala muito, e em geral, não é aceito fazer piadas políticas incorretas; quer dizer, fazer piadas sobre gays, imigrantes, homens ou mulheres, etc. O brasileiro estereotipado pode, e é mais relaxado nessas questões. Eu acho isso um pouco problemático. Por um lado é bom, se todos estão relaxados, não tomam a piada a sério e não se ofendem, mas eu acho muito difícil saber quando a piada passa dos limites. Eu acho que, em longo prazo, piadas dessa forma terão consequências negativas. Sempre fazendo piadas sobre as mulheres, fazem com que a mulher, no fim vire uma piada; vire uma espécie de palhaço, e quem toma um palhaço a sério? Aí vem a parte problemática: o estereótipo da fêmea continua prosperando. Eu acho o mesmo sobre as piadas relativas aos homens, que também mantêm o estereótipo do homem. Os estereótipos  no Brasil são bem firmes. Na Suecia, eu não acho a aparência do homen e da mulher tão diferentes. Eu acho o livro aqui discutido, um pouco negativo demais, mas eu concordo que a Suecia também não chegou a ser igual. Criamos os filhos mais iguais, mas como o livro mostra, na vida de família e trabalho as tradições conservadoras continuam e as diferenças crescem. 











ENSAIO FOTOGRAFICO "BAPHÃO QUEER" PELA DESCONSTRUÇÃO DA NORMATIVIDADE



Enéias Misael Franco dos Santos
  
Resumo: Este trabalho contempla imagens fotográficas que visam à desconstrução da normatividade encontrada na sociedade contemporânea. O ensaio fotográfico “Baphão” Queer pensa estratégias que são incomuns à conjuntura atual com a finalidade de desnaturalizar hábitos estigmatizados e fazer os espectadores refletirem sobre os mesmos ao visualizarem as obras. Modelos masculinos utilizam acessórios femininos como saltos, argolas, bolsas, maquiagem, etc. e a proposta é problematizar o que conhecemos como normas utilizando a arte da fotografia.

Palavras-chave: Fotografia, Moda, Teoria Queer, Heteronormatividade, Sexualidade.

Existem quantas maneiras de viver o casamento, a adolescência, a sexualidade, o trabalho ou a vida? Existem quantas maneiras de lidar com os pais, com os filhos, com a vestimenta ou com as modernizações que se impõem as vidas alheias, mesmo que não tenham participação direta nessas mudanças?

A sociedade insiste em ditar as regras de como se deve viver, elege um padrão e logo todos o identificam como normal, limitando e restringindo as diversas formas de vivências. Em meio a toda essa homogeneidade, pessoas que não seguem esses padrões normativos são vistas como anormais, doentes, imperfeitos, porque “as normas funcionam como princípio normalizador das práticas sociais” (BUTLER, 2006, p. 69).

 Stuart Hall (2005) caracteriza o sujeito pós-moderno como um ser fragmentando, que não consegue criar ou desenvolver uma identidade fixa e ater-se a ela pelo resto da sua vida. Ou seja, todos os dias vivemos essa crise de identidades e entendemos que, embora ‘sejamos diferentes, devemos ser normais’.


A Teoria Queer surge no cenário político para questionar o normal e o anormal, ou seja, questionar os padrões de normalidade erigidos pela sociedade. O que existe como padrão de vivência humana é questionado pelos teóricos e adeptos da Política Queer. Por que casar e ter filhos? Por que rosa é cor de menina e azul é cor de menino? Por que homens têm de se relacionar necessariamente com mulheres e vice-versa? Butler (2002) sinaliza e ajuda a compreensão dos estudiosos sobre a Teoria Queer quando diz: “Queer adquire todo o seu poder precisamente através da invocação reiterada que o relaciona com acusações, patologias e insultos”.

 Butler também traz o conceito de performatividade para explicar o que acontece quando um regime é imposto e todos seguem aquele modelo, muitas vezes de maneira ritualizada, fazendo com que os ideais ganhem força, tornem-se normas e se firmem numa sociedade, penetrando na cultura da população e tornando-se parte da vida cotidiana das pessoas.

Uma norma não é o mesmo que uma regra e tampouco é o mesmo que uma lei. Uma norma opera dentro das práticas sociais como o estandarte implícito da normalização. [...] As normas podem ser explícitas, sem dúvida, quando funcionam como princípio normalizador da prática social, mas em geral, permanecem implícitas, são difíceis de ler, os efeitos que produzem são a forma mais clara e dramática mediante a qual se podem discernir. (BUTLER, 2006, p.69).

Nessa perspectiva, nasce a proposta do ensaio fotográfico “Baphão” Queer. Ele representa uma tentativa de usar as ferramentas que servem de estigma numa pequena parcela da população, que não se encontra nos grupos ditos “normais”, para provocar as pessoas que acreditam ser saudáveis7 porque seguem um modelo de vida comum numa sociedade extremamente fragmentada e moderna.

A escolha de utilizar a arte da fotografia se deve ao poder que a mesma tem embutido, como dito por Kossoy (2001): “é a fotografia um intrigante documento visual cujo conteúdo é a um só tempo revelador de informações e denotador de emoções.” Além de eternizar os momentos para as próximas gerações, a fotografia pode ensinar. Pessoas aprendem, pensam e refletem olhando uma imagem. Estudantes com experiência na área dos Estudos da Sexualidade e do Gênero juntaram-se na tentativa de organizar um ensaio fotográfico Queer. Para isso, seria necessário utilizar locais que representassem a sociedade como ruas, passarelas, pontos de ônibus, bares, calçadas, shoppings, etc.. Assim, o ensaio causaria maior impacto, visto que a representação dessas pessoas nos referidos locais simboliza suas vivências em locais públicos, abertos e de trânsito de pessoas. Ou ainda, pode-se utilizar a justificativa de tornar as imagens mais próximas do ambiente naturalizado.

Foram feitas várias reuniões para discutir o significado da Teoria Queer, utilizando como base o texto de Colling (2011) sobre o tema. A partir deste momento, começou-se a pensar as imagens e o ensaio em si, buscando construir um link entre as imagens fotográficas e a Política Queer, cujo resultado se encontra em anexo.





REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BUTLER, Judith. Criticamente subversiva. In: JIMÉNEZ, Rafael M. Mérida.Sexualidades transgressoras. Uma antologia de estúdios queer. Barcelona: Içariaeditorial, 2002, p. 57.
 ________. Deshacer El gênero. Barcelona: Paidós, 2006, p. 69.
COLLING, Leandro. Teoria Queer. In. Mais definições em Trânsito. 2011.
HALL, Stuart. A identidade em questão. In: A identidade cultural na pós modernidade.Rio de Janeiro: DP&A, 2005, p. 7 – 22.
KOSSOY, Boris. Fotografia e História. São Paulo, Ateliê Editorial, 2001, p. 16. 

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Projeto de Lei quer regulamentar atividade dos profissionais do sexo

A atividade dos profissionais do sexo pode ser regulamentada no Brasil. A proposta é do deputado Jean Wyllys (Psol-RJ), que defende que essas pessoas tenham acesso à saúde, ao direito do trabalho, à segurança pública e à dignidade humana. O Projeto de Lei será analisado pelas comissões de Trabalho, de Administração e Serviço Público; de Constituição e Justiça e de Cidadania e pelo Plenário.

De acordo com a proposta, considera-se profissional do sexo toda pessoa capaz e maior de 18 anos que, voluntariamente, presta serviços sexuais mediante remuneração. O pagamento pela prestação dos serviços será exigível juridicamente a quem os contratou. Segundo o projeto, os profissionais poderão atuar de forma autônoma ou em cooperativa e terão direito a aposentadoria especial com 25 anos de serviço.
O deputado Jean Wyllys lembra que a prostituição acontece desde a antiguidade e continua existindo, mesmo sofrendo condenação. “É de um moralismo superficial causador de injustiças a negação de direitos aos profissionais cuja existência nunca deixou de ser fomentada pela própria sociedade que a condena”, afirma. Ele acredita que a regularização da profissão do sexo é um instrumento eficaz para combater a exploração sexual, pois possibilitará a fiscalização em casas de prostituição e o controle do Estado sobre o serviço.



A proposta altera o Código Penal para diferenciar a prostituição da exploração sexual. Atualmente é crime o favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração sexual, com pena de dois a cinco anos de reclusão e multa. Também é crime manter estabelecimento em que ocorra exploração sexual. O projeto do deputado Jean Wyllys condena a exploração sexual, que é definida como a apropriação por terceiros de mais de 50% do rendimento da prostituição; o não pagamento pelo serviço prestado e a prática da prostituição forçada por violência ou grave ameaça.

Homenagem

O deputado sugere que a norma, caso transformada em lei, homenageie Gabriela Leite, prostituta e militante dos direitos dos profissionais do sexo desde 1979.

Gabriela Leite fundou a organização não governamental (ONG) Davida, que tem como missão o fomento de políticas públicas para fortalecer a cidadania das prostitutas; a mobilização, a organização e a promoção dos direitos da categoria. A ONG criou a grife Daspu, para “driblar a dificuldade de financiamento para iniciativas de trabalho alternativo por parte das profissionais do sexo”.


terça-feira, 23 de outubro de 2012

Contribuição previdenciária para as donas de casa


O novo perfil da mulher moderna é notório através das suas atividades desenvolvidas no dia a dia, conforme fica claro para Mello e Oliveira “As mulheres foram à luta pela igualdade, mas mantém uma interdependência entre a vida familiar e a vida do trabalho, que se fundem numa mesma dinâmica e esta evidência remete à denúncia pelo movimento de mulheres da invisibilidade do trabalho feminino e das desigualdades que qualificam sua inserção produtiva”.


A admiração causada por essa autonomia é objeto de desejo de muitas mulheres que ainda lutam para ingressar no mercado de trabalho na busca da sua independência financeira, que vai muito além de garantir o salário no fim do mês. Trata-se da conquista de direitos que assegurem os benefícios básicos de cidadã, através da contribuição a Previdência, tais como a aposentadoria por idade, auxílio maternidade, auxílio doença, e a garantia de outros direitos como segurada.
Nos últimos anos, houve um aumento considerável da responsabilidade da mulher como única provedora do lar, assim, cresceu nestes anos a importância ocorrida dos recursos monetários da previdência social e da assistência social nos rendimentos dos domicílios.

A boa notícia é que essas mulheres que por falta de oportunidade de crescer profissionalmente extra lar, ou mesmo por optarem em serem donas de casa, podem agora, com a sanção da Lei 12.470/2011, garantir os seus direitos. Pela lei, as donas de casa de baixa renda que estejam cadastradas no Cadastro Único para Projetos Sociais do Governo Federal (CadÚnico) do seu município poderão contribuir com uma alíquota mínima de 5% do valor do salário mínimo vigente. Mas para isso, é necessário ter como pré-requisito a renda familiar, que não poderá ultrapassar a quantia de dois salários mínimos mensais.

A segurada terá as mesmas garantias dos auxílios recebidos por qualquer outro profissional que contribua para a Previdência, sendo eles: aposentadoria aos 60 anos de idade, aposentadoria por invalidez, auxílio-doença, salário-maternidade, pensão por morte e auxílio-reclusão.

Com os benefícios, o fato do trabalho doméstico não ter “fundos lucrativos” será minimizado, aliviando as tensões do dia a dia de tais mulheres que precisam fazer “mágica” para multiplicar os ganhos da família que muitas vezes não chegam a um salário mínimo, sendo este o perfil da maioria das famílias de baixa renda.

Vale ressaltar que no caso daqueles que nunca contribuíram para a Previdência Social, há o Beneficio de Prestação Continuada (BPC), um benefício da Política de Assistência Social, que integra a Proteção Social Básica no âmbito do Sistema Único de Assistência Social (SUAS).

Entretanto, para ter direito ao BPC que assegura a transferência mensal de 1 (um) salário mínimo, alguns critérios terão de ser obedecidos: como ter 65 anos de idade ou mais, ou ser portador de deficiência, sendo que para ambos a renda familiar per capta tem que ser inferior a 1/4 do salário mínimo vigente. Contudo, estes não terão as mesmas garantias dos auxílios recebidos por qualquer outro profissional que contribua.

A relevância da divulgação de tais informações é legitimada por levantamentos de organizações como a ONU (Organização das Nações Unidas) que indicam que nos próximos 20 a 30 anos a maioria da população do Brasil e do mundo será formada por idosos.

Daí a importância da disseminação desses conhecimentos para garantir os direitos básicos de mulheres que se dedicam ao lar por falta de opção e/ou qualificação, ou até mesmo por escolha. São medidas desta natureza que redefinem o papel da mulher no âmbito social e adéquam a legislação às necessidades da sociedade contemporânea.

Todos os benefícios acima citados poderão ser requeridos diretamente em uma Agência da Previdência Social mais próxima de sua residência.

Para mais informações consulte o site da Previdência Social disponível nos links http://www.previdenciasocial.gov.br/vejaNoticia.php?id=44041 http://www.previdencia.gov.br/conteudoDinamico.php?id=23

QUINHENTOS ANOS DE QUÊ ?

Belchior,cantor e compositor, escreveu uma música chamada “Quinhentos anos de quê?” no ano em que foram comemorados os quinhentos anos da ocupação das Américas, quando aqui chegaram às três caravelas de Cristovão Colombo. Neste ano, a Espanha e países latino-americanos organizaram uma grande festa em homenagem ao acontecimento. Mas, do outro lado, povos indígenas e africanos protestavam, pois para eles não era motivo de comemoração, eram quinhentos anos de exploração.

Veja estes versos da música:
Quanto aos índios que mataram...
                          Ah! Ninguém pode contar.  
Estima-se que quando as caravelas chegaram às Américas existiam 250 milhões de habitantes. Hoje a estimativa é que existam 50 milhões de índios nas três Américas. No Brasil, eram 5 milhões e, hoje, a população indígena é de 700 mil pessoas, distribuídas em 215 povos ( Dados do levantamento feito pelo estudo “Indicadores de Desenvolvimento Sustentável: Brasil 2008, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE).
Mas onde estão estes indígenas hoje? Hoje em dia, a luta dos índios é por direitos à moradia, à demarcação de seus territórios, à manutenção de suas reservas e, principalmente, pela preservação da sua cultura. Sem contar as perseguições que eles sofrem por parte dos garimpeiros e madeireiros que invadem suas terras para explorar os recursos naturais e as suas riquezas.
Não vemos índios nas novelas, nos jornais, nos programas, a não ser no dia do índio. Não sabemos das lutas enfrentadas por esse povo, porque não são divulgadas pela mídia e, quando sai alguma noticia é para reforçar estereótipos e estigmas consolidados no imaginário social brasileiro.
De acordo com o texto “Desigualdades de gênero, raça e etnia”, as mulheres negras e indígenas são predominantes nas áreas de extrema pobreza no país e apresentam as piores condições de vida, têm acesso desigual à saúde, adoecem e morrem mais e, independe de sua ocupação no mercado de trabalho, recebem os piores salários. Em consequência da negação cultural, sofrem danos emocionais decorrentes da violenta discriminação social cotidiana, em função da sua condição de gênero, raça e etnia, inclusive violência doméstica. Além disso, são sub-representadas na mídia e nos espaços de poder. Isso acontece porque, no Brasil, a mídia delegou a esses segmentos e aos problemas que os afetam, uma invisibilidade histórica.
Nas décadas de 1970 e 1980, as questões de gênero da mulher indígena eram tratadas por grupos feministas e, ao longo dos anos, surgem manifestações das mulheres indígenas, que lutam não só por reivindicações gerais do seu povo, mas também por novas pautas e preocupações relativas ao universo feminino, tais como a violência familiar e interétnica, os meios técnicos e financeiros para a geração de renda, a saúde reprodutiva e a participação nas decisões sobre questões políticas, reivindicações postas nos debates dos movimentos indígenas por políticas públicas.

Em 1990, houve a Institucionalização das demandas por igualdade e respeito às diferenças de gênero no meio indígena brasileiro. Foram criadas várias Organizações de Mulheres Indígenas onde são discutidas as demandas, apoiadas por Organizações não Governamentais e Agências Governamentais e Internacionais.

Segundo Rodolfo Stavenhagen (2007 pg. 12), no seu VI informe apresentado ao Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas em 2007, relatou o seguinte:

"Muitas denúncias foram relatadas nas organizações por mulheres vítimas de praticas discriminatórias em suas próprias comunidades, tais como: matrimônios forçados, a prática de doar filhas a outras comunidades, a violência doméstica, a violação sexual das meninas, ao acesso limitado a propriedade e outras formas de supremacia masculina e patriarcalismo. Essas mulheres têm pouca oportunidade de denunciar esses abusos ante a lei, quando fazem sofrem incompreensão e pressões fortes no meio familiar e comunitário."

Para enfrentamento da situação dessas mulheres, existe a necessidade de análise mais específica, de modo a não se tornar mais uma forma de ingerência sociocultural e política nessas sociedades. Rita Laura Segato, na Oficina de Capacitação e Discussão sobre Direitos Humanos, Gênero e Políticas Públicas para Mulheres Indígenas, realizada em Brasília, no ano de 2002, reforça essa afirmação quando observa que:

a  mulher indígena padece de todos os problemas e desvantagens da mulher brasileira, mais um : o mandato inapelável e inegociável de lealdade ao povo a que pertence, pelo caráter vulnerável de seu povo. “( IDEM, pg. 31).

Ficamos a imaginar quantas situações o povo indígena passou e ainda passa para ter direito a terras que são deles há muito tempo, bem antes de Cristovão Colombo chegar às Américas, bem como se adaptarem às tecnologias que estão aí, sem deixarem de lado a sua cultura e, lutando para que esta seja preservada. Mas eles não ficaram e não estão parados, existem muitos movimentos indígenas e uma das vitorias conquistadas por eles foi a inclusão nos currículos da educação de todo o pais do ensino da cultura indígena.

Um povo que foi chacinado, explorado e hoje é esquecido por muitos. Temos muito a aprender com os índios, pois eles sim, sabem o valor que a natureza e a família tem para as nossas vidas.



Referências: 
Os Povos Indígenas no Brasil, uma historia de  resistência de Amelia Albuquerque;
Documentário: Índios, Os Donos da terra (WWW.youtube.com)
Site vagalume.com – músicas de Belchior
Desigualdades de gênero, raça e etnia –
Mulheres Indígenas, direitos e políticas publica, Ela Wiecko V. De Castiho- OXFAM NOVIB-INESC- Brasília 2008


segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Mulheres Brasileiras que marcaram a História


Chiquinha Gonzaga (1847 – 1935)
Primeira Maestrina do Brasil

 Compositora, instrumentista, regente. Rio de Janeiro. Maior personalidade feminina da história da música popular brasileira e uma das expressões maiores da luta pelas liberdades no país, promotora da nacionalização musical, primeira maestrina, autora da primeira canção carnavalesca, primeira pianista de choro, introdutora da música popular nos salões elegantes, fundadora da primeira sociedade protetora dos direitos autorais, Chiquinha Gonzaga nasceu no Rio de Janeiro, filha do militar José Basileu Neves Gonzaga e de Rosa de Lima Maria. Estudou piano com professor particular e aos 11 anos compôs sua primeira música, uma cantiga de Natal: Canção dos Pastores.
Autora de uma obra imensa foi uma mulher à frente do seu tempo. Participou intensamente da implantação do choro no Rio de Janeiro dos últimos 20 anos do Império e foi ousada tanto na carreira como na vida pessoal ,a pioneira da emancipação da mulher no Brasil Francisca Hedwiges de Lima Neves Gonzaga... a primeira maestrina do Brasil: Chiquinha Gonzaga!

Disponível em:<http://www.chiquinhagonzaga.com.br>


Leila Diniz (1945 – 1972)

A breve história de Leila Diniz foi como um terremoto a sacudir os usos e costumes da sociedade brasileira – especialmente nos anos 60, quando ela se transformou no maior ícone da liberdade feminina. Leila desafiava, enfrentava, estimulava e divertia os brasileiros com atitudes e simbolismo. Como atriz, tornou-se musa do embrionário cinema novo, movimento que propunha o rompimento dos padrões estéticos adotados até então – com base forte no modelo hollywoodiano.
No plano pessoal, desafiava regras que julgava impostas: era capaz de dizer palavrões em público, dar entrevistas em que revelava preferências sexuais ou trocar de namorado sem dar satisfações a ninguém. Em 1969, em entrevista ao jornal alternativo Pasquim, motivou a lei de censura prévia, apelidada de Decreto Leila Diniz, produzida pelo ministro da Justiça, Alfredo Buzaid. “Você pode amar muito uma pessoa e ir para a cama com outra. Já aconteceu comigo”, dizia. Sua imagem mais célebre, de 1971, na qual posou grávida de biquíni, na praia carioca de Ipanema, tinha o ineditismo incômodo que a levou a ser acusada por feministas de servir aos homens.
Saiu de casa aos 17 anos para morar com o cineasta Domingos de Oliveira, que a dirigiu em Todas as Mulheres do Mundo (1966). Mais tarde, casou-se com o também cineasta Ruy Guerra, pai de sua única filha, Janaína. Sete meses depois do nascimento da menina, Leila morreu no acidente aéreo, em que o avião explodiu perto de Nova Déli, na Índia. A atriz voltava da Austrália, onde participara do Festival Internacional de Adelaide para promover o filme Mãos Vazias. Leila havia antecipado o vôo de volta por causa da saudade que sentia da filha. Mãe devotada, morreu aos 27 anos e deixou um exemplo para sua geração.
Disponível em: <http://www.terra.com.br/istoegente/100mulheres/comportamento/leila.htm>.


Dina Sfat (1938 – 1989)


Dina Kutner de Souza (São Paulo SP 1938 - Rio de Janeiro RJ 1989). Atriz. Dina Sfat distingue-se, na sua carreira teatral, pela exigência e coerência com que seleciona os seus compromissos profissionais. É uma das artistas de proa que verbalizam e expressam as reivindicações nacionais contra a injustiça e a opressão durante o período da ditadura. Não é possível desligar sua vida artística de sua ativa participação na vida cultural e política do país, seja integrando movimentos em prol da democracia ou da liberdade de expressão.
 Sua forte liderança neste campo é tão grande que, numa aula da Escola Superior de Guerra, um general a define como "líder feminista vinculada à estratégia de poder da extrema-esquerda". Ela, de fato, noticiou que sairia candidata ao cargo de vice-presidente do país pela sigla do Partido Comunista do Brasil - PCB, em 1984, mas jamais integra algum partido ou filia-se a qualquer facção política. Seu inconformismo e legítimo sentido de liberdade ancoram-se em generosa visão da vida e do mundo, sem sectarismos.
Ao descobrir-se com câncer, luta durante três anos contra a doença. Viaja para a Rússia, em tratamento, aproveitando para fazer um documentário para a TV, no momento em que a perestróika dava seus primeiros passos, levantando muita curiosidade sobre o assunto. Pouco antes de morrer lança uma autobiografia, Dina Sfat - Palmas pra que Te Quero, escrita em parceria com a jornalista Mara Caballero.


Heleieth Saffioti (1934-2010)


A socióloga e professora Heleieth Iara Bongiovani Saffioti (1934-2010), foi uma referência no movimento feminista, dado o seu pioneirismo no estudo das questões de gênero e, em particular, estudos voltados para a violência contra as mulheres. Autora de vários artigos e livros como "A Mulher na Sociedade de Classes: Mito e Realidade" (1969),”O Poder do Macho”(1987) e “Gênero, Patriarcado e Violência” (2004) dentre outros.  Criou um núcleo de estudos de gênero, classe e etnia na UFRJ, orientou teses na PUC-SP e se aposentou pela Unesp de Araraquara, onde se tornou professora emérita. Ousada, valeu-se dos conceitos de Marx para compreender algo que o marxismo negligenciara: a imbricação classe-gênero na sociedade burguesa. Em sua obra, procura demonstrar que restringir a luta das mulheres à reivindicação por direitos sociais impede a emancipação feminina, ou seja, a luta de classes não basta para produzir a emancipação humana, é preciso, ao mesmo tempo, acabar com a opressão feminina.como criar um blog