"... o sexo é fisiológico e diz respeito às diferenças biológicas entre machos e fêmeas da espécie humana. O sexo é determinado pelas características físicas, equipamento biológico que, de fato, é diferente em homens e mulheres. Já o gênero é cultural, ou seja, ser homem ou ser mulher não implica apenas na fisiologia, mas também em incorporar comportamentos, desempenhar papéis e funções sociais que historicamente foram designadas como masculinas e femininas" (TAVARES, 2006).


terça-feira, 23 de outubro de 2012

QUINHENTOS ANOS DE QUÊ ?

Belchior,cantor e compositor, escreveu uma música chamada “Quinhentos anos de quê?” no ano em que foram comemorados os quinhentos anos da ocupação das Américas, quando aqui chegaram às três caravelas de Cristovão Colombo. Neste ano, a Espanha e países latino-americanos organizaram uma grande festa em homenagem ao acontecimento. Mas, do outro lado, povos indígenas e africanos protestavam, pois para eles não era motivo de comemoração, eram quinhentos anos de exploração.

Veja estes versos da música:
Quanto aos índios que mataram...
                          Ah! Ninguém pode contar.  
Estima-se que quando as caravelas chegaram às Américas existiam 250 milhões de habitantes. Hoje a estimativa é que existam 50 milhões de índios nas três Américas. No Brasil, eram 5 milhões e, hoje, a população indígena é de 700 mil pessoas, distribuídas em 215 povos ( Dados do levantamento feito pelo estudo “Indicadores de Desenvolvimento Sustentável: Brasil 2008, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE).
Mas onde estão estes indígenas hoje? Hoje em dia, a luta dos índios é por direitos à moradia, à demarcação de seus territórios, à manutenção de suas reservas e, principalmente, pela preservação da sua cultura. Sem contar as perseguições que eles sofrem por parte dos garimpeiros e madeireiros que invadem suas terras para explorar os recursos naturais e as suas riquezas.
Não vemos índios nas novelas, nos jornais, nos programas, a não ser no dia do índio. Não sabemos das lutas enfrentadas por esse povo, porque não são divulgadas pela mídia e, quando sai alguma noticia é para reforçar estereótipos e estigmas consolidados no imaginário social brasileiro.
De acordo com o texto “Desigualdades de gênero, raça e etnia”, as mulheres negras e indígenas são predominantes nas áreas de extrema pobreza no país e apresentam as piores condições de vida, têm acesso desigual à saúde, adoecem e morrem mais e, independe de sua ocupação no mercado de trabalho, recebem os piores salários. Em consequência da negação cultural, sofrem danos emocionais decorrentes da violenta discriminação social cotidiana, em função da sua condição de gênero, raça e etnia, inclusive violência doméstica. Além disso, são sub-representadas na mídia e nos espaços de poder. Isso acontece porque, no Brasil, a mídia delegou a esses segmentos e aos problemas que os afetam, uma invisibilidade histórica.
Nas décadas de 1970 e 1980, as questões de gênero da mulher indígena eram tratadas por grupos feministas e, ao longo dos anos, surgem manifestações das mulheres indígenas, que lutam não só por reivindicações gerais do seu povo, mas também por novas pautas e preocupações relativas ao universo feminino, tais como a violência familiar e interétnica, os meios técnicos e financeiros para a geração de renda, a saúde reprodutiva e a participação nas decisões sobre questões políticas, reivindicações postas nos debates dos movimentos indígenas por políticas públicas.

Em 1990, houve a Institucionalização das demandas por igualdade e respeito às diferenças de gênero no meio indígena brasileiro. Foram criadas várias Organizações de Mulheres Indígenas onde são discutidas as demandas, apoiadas por Organizações não Governamentais e Agências Governamentais e Internacionais.

Segundo Rodolfo Stavenhagen (2007 pg. 12), no seu VI informe apresentado ao Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas em 2007, relatou o seguinte:

"Muitas denúncias foram relatadas nas organizações por mulheres vítimas de praticas discriminatórias em suas próprias comunidades, tais como: matrimônios forçados, a prática de doar filhas a outras comunidades, a violência doméstica, a violação sexual das meninas, ao acesso limitado a propriedade e outras formas de supremacia masculina e patriarcalismo. Essas mulheres têm pouca oportunidade de denunciar esses abusos ante a lei, quando fazem sofrem incompreensão e pressões fortes no meio familiar e comunitário."

Para enfrentamento da situação dessas mulheres, existe a necessidade de análise mais específica, de modo a não se tornar mais uma forma de ingerência sociocultural e política nessas sociedades. Rita Laura Segato, na Oficina de Capacitação e Discussão sobre Direitos Humanos, Gênero e Políticas Públicas para Mulheres Indígenas, realizada em Brasília, no ano de 2002, reforça essa afirmação quando observa que:

a  mulher indígena padece de todos os problemas e desvantagens da mulher brasileira, mais um : o mandato inapelável e inegociável de lealdade ao povo a que pertence, pelo caráter vulnerável de seu povo. “( IDEM, pg. 31).

Ficamos a imaginar quantas situações o povo indígena passou e ainda passa para ter direito a terras que são deles há muito tempo, bem antes de Cristovão Colombo chegar às Américas, bem como se adaptarem às tecnologias que estão aí, sem deixarem de lado a sua cultura e, lutando para que esta seja preservada. Mas eles não ficaram e não estão parados, existem muitos movimentos indígenas e uma das vitorias conquistadas por eles foi a inclusão nos currículos da educação de todo o pais do ensino da cultura indígena.

Um povo que foi chacinado, explorado e hoje é esquecido por muitos. Temos muito a aprender com os índios, pois eles sim, sabem o valor que a natureza e a família tem para as nossas vidas.



Referências: 
Os Povos Indígenas no Brasil, uma historia de  resistência de Amelia Albuquerque;
Documentário: Índios, Os Donos da terra (WWW.youtube.com)
Site vagalume.com – músicas de Belchior
Desigualdades de gênero, raça e etnia –
Mulheres Indígenas, direitos e políticas publica, Ela Wiecko V. De Castiho- OXFAM NOVIB-INESC- Brasília 2008


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