Belchior,cantor e compositor, escreveu
uma música chamada “Quinhentos anos de quê?” no ano em que foram comemorados os
quinhentos anos da ocupação das Américas, quando aqui chegaram às três
caravelas de Cristovão Colombo. Neste ano, a Espanha e países latino-americanos
organizaram uma grande festa em homenagem ao acontecimento. Mas, do outro lado,
povos indígenas e africanos protestavam, pois para eles não era motivo de
comemoração, eram quinhentos anos de exploração.
Veja estes versos da música:
Quanto aos índios que mataram...
Ah! Ninguém pode contar.
Estima-se que quando as caravelas
chegaram às Américas existiam 250 milhões de habitantes. Hoje a estimativa é
que existam 50 milhões de índios nas três Américas. No Brasil, eram 5 milhões e,
hoje, a população indígena é de 700 mil pessoas, distribuídas em 215 povos (
Dados do levantamento feito pelo estudo “Indicadores de Desenvolvimento
Sustentável: Brasil 2008, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística –
IBGE).
Mas onde estão estes indígenas hoje?
Hoje em dia, a luta dos índios é por direitos à moradia, à demarcação de seus
territórios, à manutenção de suas reservas e, principalmente, pela preservação
da sua cultura. Sem contar as perseguições que eles sofrem por parte dos
garimpeiros e madeireiros que invadem suas terras para explorar os recursos
naturais e as suas riquezas.
Não vemos índios nas novelas, nos
jornais, nos programas, a não ser no dia do índio. Não sabemos das lutas
enfrentadas por esse povo, porque não são divulgadas pela mídia e, quando sai alguma
noticia é para reforçar estereótipos e estigmas consolidados no imaginário
social brasileiro.
De acordo com o texto “Desigualdades de
gênero, raça e etnia”, as mulheres negras e indígenas são predominantes nas
áreas de extrema pobreza no país e apresentam as piores condições de vida, têm
acesso desigual à saúde, adoecem e morrem mais e, independe de sua ocupação no
mercado de trabalho, recebem os piores salários. Em consequência da negação
cultural, sofrem danos emocionais decorrentes da violenta discriminação social
cotidiana, em função da sua condição de gênero, raça e etnia, inclusive
violência doméstica. Além disso, são sub-representadas na mídia e nos espaços
de poder. Isso acontece porque, no Brasil, a mídia delegou a esses segmentos e
aos problemas que os afetam, uma invisibilidade histórica.
Nas décadas de 1970 e 1980, as questões
de gênero da mulher indígena eram tratadas por grupos feministas e, ao longo
dos anos, surgem manifestações das mulheres indígenas, que lutam não só por
reivindicações gerais do seu povo, mas também por novas pautas e preocupações relativas
ao universo feminino, tais como a violência familiar e interétnica, os meios
técnicos e financeiros para a geração de renda, a saúde reprodutiva e a
participação nas decisões sobre questões políticas, reivindicações postas nos
debates dos movimentos indígenas por políticas públicas.
Em 1990, houve a Institucionalização
das demandas por igualdade e respeito às diferenças de gênero no meio indígena
brasileiro. Foram criadas várias Organizações de Mulheres Indígenas onde são
discutidas as demandas, apoiadas por Organizações não Governamentais e Agências
Governamentais e Internacionais.
Segundo Rodolfo Stavenhagen (2007 pg.
12), no seu VI informe apresentado ao Conselho de Direitos Humanos das Nações
Unidas em 2007, relatou o seguinte:
"Muitas denúncias
foram relatadas nas organizações por mulheres vítimas de praticas
discriminatórias em suas próprias comunidades, tais como: matrimônios forçados,
a prática de doar filhas a outras comunidades, a violência doméstica, a
violação sexual das meninas, ao acesso limitado a propriedade e outras formas
de supremacia masculina e patriarcalismo. Essas mulheres têm pouca oportunidade
de denunciar esses abusos ante a lei, quando fazem sofrem incompreensão e
pressões fortes no meio familiar e comunitário."
Para enfrentamento da situação dessas
mulheres, existe a necessidade de análise mais específica, de modo a não se
tornar mais uma forma de ingerência sociocultural e política nessas sociedades.
Rita Laura Segato, na Oficina de Capacitação e Discussão sobre Direitos
Humanos, Gênero e Políticas Públicas para Mulheres Indígenas, realizada em
Brasília, no ano de 2002, reforça essa afirmação quando observa que:
“ a mulher indígena padece de todos os problemas e
desvantagens da mulher brasileira, mais um : o mandato inapelável e
inegociável de lealdade ao povo a que pertence, pelo caráter vulnerável de seu
povo. “( IDEM, pg. 31).
Ficamos a imaginar quantas situações o
povo indígena passou e ainda passa para ter direito a terras que são deles há
muito tempo, bem antes de Cristovão Colombo chegar às Américas, bem como se adaptarem
às tecnologias que estão aí, sem deixarem de lado a sua cultura e, lutando para
que esta seja preservada. Mas eles não ficaram e não estão parados, existem
muitos movimentos indígenas e uma das vitorias conquistadas por eles foi a
inclusão nos currículos da educação de todo o pais do ensino da cultura
indígena.
Um povo que foi chacinado, explorado e
hoje é esquecido por muitos. Temos muito a aprender com os índios, pois eles
sim, sabem o valor que a natureza e a família tem para as nossas vidas.
Referências:
Os Povos Indígenas no Brasil, uma historia de resistência de Amelia Albuquerque;
Os Povos Indígenas no Brasil, uma historia de resistência de Amelia Albuquerque;
Documentário: Índios,
Os Donos da terra (WWW.youtube.com)
Site vagalume.com –
músicas de Belchior
Desigualdades de gênero, raça e etnia –
Mulheres Indígenas,
direitos e políticas publica, Ela Wiecko V. De Castiho- OXFAM NOVIB-INESC-
Brasília 2008
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