"... o sexo é fisiológico e diz respeito às diferenças biológicas entre machos e fêmeas da espécie humana. O sexo é determinado pelas características físicas, equipamento biológico que, de fato, é diferente em homens e mulheres. Já o gênero é cultural, ou seja, ser homem ou ser mulher não implica apenas na fisiologia, mas também em incorporar comportamentos, desempenhar papéis e funções sociais que historicamente foram designadas como masculinas e femininas" (TAVARES, 2006).


quinta-feira, 28 de junho de 2012

MACHISMO, MULHER E HISTORIA


Historia das mulheres

Mexicanas
Tlazoltéotl, lua mexicana, deusa da noite asteca, nasceu num lugar conhecido como panteón machista dos astecas.
Ela era a mãe que guiava a viagem das sementes até as plantas. Deusa do amor e também do lixo, condenada a comer lixo, encarnava a fecundidade e a luxuria.
Como Eva e como Pandora, Tlazoltéotl era a culpada por toda perdição dos homens. As mulheres que nasciam no seu dia eram condenadas ao prazer. E quando a terra tremia, por vibração suave, ou por terremoto devastador, ninguém duvidava de que era ela a causadora dos abalos...
   





Egipcias

No Egito as mulheres, fossem nobres ou plebeias, se casavam  livremente e não renunciavam nem aos seus nomes,  nem aos seus bens. 
A educação, a propriedade, o trabalho e a herança eram direitos delas, e não só dos homens, e eram elas que faziam as compras no mercado, enquanto os homens ficavam cuidando da casa... 
O Egito foi um claro exemplo de civilização antiga igualitária.

        



Hebreias

O Antigo Testamento conta que as filhas de Eva seguiam sofrendo o castigo divino.
Poderiam morrer apedrejadas, as adúlteras, as feiticeiras e as mulheres que não fossem mais virgens no matrimonio. Iam para fogueira as  filhas de sacerdotes que fossem prostitutas.
Durante quarenta dias ficava impura a mulher que tinha um filho, e durava oitenta dias a impureza se o filho fosse uma menina.
Impura era a mulher menstruada. Sua impureza durava sete dias e sete noites, e transmitia sua impureza a toda pessoa que a tocava ou que tocava a cadeira ou a cama donde dormia...
 

Hindus

Mitra, mãe do sol e da água, foi deusa desde o dia que nasceu. Quando chegou na Índia, desde Babilônia, a deusa teve que se converter em deus.
Já se passaram muitos anos desde a chegada de Mitra e ainda as mulheres não são bem-vindas na Índia. Há menos mulheres que homens lá. Em algumas regiões são oito mulheres para cada dez homens. São muitas as que não finalizam sua viagem porque morrem no ventre da sua mãe e muitas  as que são asfixiadas ao nascer.
A tradição mandava que as mulheres morressem queimadas na fogueira que ardia o seu defunto marido. Durante séculos, muitas o fizeram, porém, não se conhece nenhum caso de marido que fosse queimado na fogueira de sua defunta mulher...
     


Romanas

Cicero explicava que as mulheres deviam estar submetidas aos homens devido a debilidade do seu intelecto.
As romanas passavam das mãos de um homem às mãos de outro homem. O pai que casava sua filha a vendia para o seu marido em propriedade ou emprestado.  A única coisa importante era seu patrimônio e sua herança.
Os médicos romanos achavam que as mulheres, todas patrícias, plebeias ou escravas, tinham menos dentes e menor cérebro que os homens.
Plínio ‘O Velho’, a maior autoridade cientifica do império, demonstrou que a mulher menstruada fazia o vinho novo mais azedo, esterilizava as colheitas, secava as sementes e as frutas, matava as plantas e fazia com que os cães enlouquecessem...



Gregas

De uma dor de cabeça de Zeus nasceu Atena. Ela nasceu sem mãe.
Tempos depois seu voto foi decisivo no tribunal dos deuses.
Amargurada e impulsiva, Electra, levada mais pela fúria do que pela maldade, induziu seu irmão, Orestes, a assassinar sua mãe, vingando a morte de seu pai.
Apolo assumiu a defesa expondo que os acusados eram filhos de uma mãe indigna e que a maternidade não tinha a menor importância.
Dentre os treze deuses do tribunal, seis votaram pela condenação e seis pela libertação de Electra e Orestes. 
Atena decidiu o desempate. Ela votou por conta da mãe que nunca teve e deu vida eterna ao poder masculino em Atenas...
             







Mulheres históricas

Na historia universal, escrita principalmente pelos homens, é bem difícil achar relatos de mulheres que influenciaram de forma importante no decorrer dos anos. Mas teve, e têm muitas, que pela sua valentia, sua luta pela igualdade de sexos e sua capacidade intelectual conquistaram um lugar num mundo injustamente masculino.
Agora seguem alguns exemplos de mulheres históricas, algumas mais reconhecidas que outras, mas todas elas muito importantes.


                




Urraca (1187-1220)
Foi a primeira rainha da Espanha. Governou durante dezessete anos, mas a historia conta que não foram mais que quatro...
Divorciou-se do marido que lhe foi imposto, farta de sofrer sua violência e o mandou embora da sua cama e do seu palácio. A historia conta que foi ele que a rejeitou...
Para que a igreja soubesse quem mandava e aprendesse a respeitar o trono feminino, a rainha Urraca mandou para o cárcere o bispo de Santiago de Compostela, pegando todos seus castelos, algo nunca visto nessas terras tão cristãs. A historia clerical conta que isso foi um simples ataque de loucura...
Teve muitos amores e muitos amantes, mas essas são coisas que a historia clerical tem vergonha de contar...



             

Trótula (sc. XI)
Enquanto as Cruzadas atravessavam a Ásia, Trótula Ruggerio morria em Salerno.
Não se sabe muita coisa dela já que a historia estava ocupada em registrar as proezas dos guerreiros de Cristo. Mas se sabe que foi a primeira mulher a escrever um tratado em ginecologia, obstetrícia e puericultura.
Na época as mulheres não se atreviam a mostrar seu corpo aos homens,  por isso recorriam a ela para abrir seu corpo e sua alma, e contar todos seus secretos e todos seus problemas.
Trótula ensinava a aliviar a viuvez, a simular a gravidez, a como levar melhor um parto, a como evitar o mau alento, a branquear a pele e os dentes... 
A cirurgia estava de moda, mas Trótula preferia outras terapias: a mão, as plantas, o ouvido. Fazia massagens, preparava infusões e sabia escutar.



                








Harriet Tubman (sc.XIX)
Viveu no Canadá. Ela foi uma escrava que com valentia, fugiu. Seu marido não foi com ela, ele preferia seguir sendo escravo e pai de escravos.
Ela regressou para libertar a seus pais e  seus irmãos, e assim fez até dezenove viagens liberando mais de trezentos escravos negros.
Até quarenta mil dólares foram oferecidos em recompensa pela sua captura, mas ninguém os chegou a ganhar.







Olympia de Gouges (1748-1793)
São femininos muitos dos símbolos da Revolução Francesa, mas  esta foi a Revolução que proclamava os Direitos do Homem e do Cidadão...  Por isso que quando a militante revolucionaria Olympia de Gougues propôs  a Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadania foi presa e o Tribunal a sentenciou que lhe cortassem a cabeça na guilhotina.
Suas companheiras eram tomadas por loucas, e sua principal precursora Malon Roland, ainda sendo esposa do ministro de interior da França, tampouco se liberou da guillotina.






           


Emilia Pardo Bazán (1851-1921)
Como a educação não era para as mulheres, ela vestiu-se de homem para entrar na universidade.
Escreveu mais de 500 obras literárias, conjugando realismo e naturismo em suas obras, sempre mantendo um forte ativismo no campo dos direitos da mulher, sobretudo no direito a uma educação igualitária.
Também escreveu muito sobre o matrimônio, separou-se do seu marido e teve muitos amores, sem permitir nunca a supremacia do homem.
Ainda sendo uma das escritoras mais importantes da historia da Espanha, foi excluída da Real Academia da Língua. O motivo? ser mulher!




           

Marie Curie (1867-1934)
Foi a primeira mulher que recebeu o premio Nobel, e o recebeu duas vezes.
Foi também, a primeira mulher catedrática da Soborne e durante muitos anos a única.
Depois, quando já não podia celebrá-lo, foi a primeira mulher aceitada no Panteón, mausoléu reservado os grandes homens da França, ainda que ela não fosse homem e tivesse nascido na Polônia.
Ao final de século XIX, Marie Sklodowska e seu marido, Pierre Curie, descobriram uma substancia que emitia quatrocentas vezes mais radiação que o urânio. Chamaram polônio, em homenagem ao pais de Marie. Pouco depois, inventaram a palavra radioatividade e começaram seus experimentos com o radio, três mil vezes mais forte que o urânio. Juntos receberam o premio Nobel.
O corpo de Marie teve que pagar o preço do seu êxito. As radiações provocaram queimaduras graves e fortes dores, até que finalmente morreu de anemia.




            







Alexandra Kollontai (1872-1952)
Foi a única mulher que chegou a ser ministra no governo de Lennin.
Graças a ela, a homossexualidade e o aborto deixaram de ser crime, o adultério já não foi mais uma condenação à pena perpetua, as mulheres tiveram direito ao voto e igualdade de salários. Criou creches gratuitas, restaurantes populares e lavanderias coletivas.
Anos depois, quando Stalin decapitou a revolução, Alexandra conseguiu conservar sua cabeça. Mas deixou de ser ministra.






Victoria Kent (1889-1987)
Nascida em Madrid, em 1936, Victoria Kent foi eleita deputada do governo.
Sua popularidade veio pela reforma dos cárceres. Quando iniciou essa reforma, seus numerosos inimigos acusaram-na de entregar seu país, a  Espanha nas mãos dos delinquentes. No entanto, Victoria que já tinha trabalhado nos cárceres e conhecia bem a dor humana seguiu adiante com seu programa.
Fechou as prisões em mau estado, que eram a maioria, inaugurou as permissões de saída, liberou todos os presos maiores de 70 anos, criou campos de desporte e lugares de trabalho voluntario e suprimiu as celas de castigo.   


Doria Shafik (1908-1975)
No Cairo, em 1951, mil quinhentas mulheres invadiram o Parlamento.
Estiveram lá durante horas. Clamavam que o Parlamento era mentira porque a metade da população não podia votar nem ser votada.
Os lideres religiosos, representantes do céu gritavam: “O voto degrada a mulher e contradiz a natureza”.
O direito ao voto custou mas foi conquistado. Foi uma das conquistas da União de Filhas do Nilo. O governo proibiu que  a União se convertesse em partido político, e condenou à prisão domiciliar a Doria Shafik, líder do movimento.
Isso não foi nada estranho. Quase todas as mulheres egípcias estavam condenadas à prisão domiciliar. Não podiam fazer nada sem permissão do pai ou do marido, e muitas eram as que só saiam da casa em três ocasiões: para ir a Meca, para ir a sua boda e para ir a seu enterro.  
              







Referências:

GALEANO, Eduardo. Espejos. Una historia casi universal. Siglo XXI editores. Madrid, fev. 2008.

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